do BLOG: Tácito Garros
A perfuração clandestina de poços artesianos e tubulares em São Luís, aliada à má utilização dos recursos hídricos (água) e à falta de controle deste tipo de exploração por parte do poder público, pode causar graves problemas para a capital em um curto espaço de tempo. Geólogos e especialistas no assunto alertam para a possibilidade de a água doce destes poços secar e, diante disso, ser iniciada a invasão de água salgada, em até 10 anos, nos espaços antes explorados de forma irregular, o que provocaria um colapso, principalmente na zona rural da capital, cuja população, quase a totalidade, é abastecida por águas subterrâneas. A preocupação parte do geólogo Carlos Borromeu, que estuda o assunto há muitos anos. O problema já foi identificado em alguns poços de São Luís.
O tema foi debatido em palestras e mesas-redondas durante o 16º Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas, o 17º Encontro Nacional de Perfuração de Poços e durante a Feira Nacional da Água (Fenágua), realizados de quarta-feira (1º) a sexta-feira (3), no Centro de Convenções Pedro Neiva de Santana, no Cohafuma.
No início do mês de agosto, O Estado divulgou os dados de uma pesquisa realizada pelo Instituto Trata Brasil, que colocou a capital como a 14ª cidade com mais de 300 mil habitantes com maior percentual de água desperdiçada do Brasil. Os dados tomaram como base o ano de 2007. De acordo com o instituto, 58% da água produzida em São Luís não é faturada pela Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema), considerado outro problema grave.
Subterrânea
Dados da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (Abas) são de que pelo menos 55% da população da Região Metropolitana de São Luís e 99% do abastecimento industrial – que envolve as empresas Alumar, Vale, Ambev, Coca Cola, Refrinor, Enesa, Usiminas, São Braz, entre outras – utilizam captação de água subterrânea, por meio de poços artesianos. Muitos foram construídos fora dos padrões técnicos exigidos por norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), sem atendimento a legislação (sem licenças de perfuração e autorização para a utilização de água), o que banaliza o trabalho de perfuradores de poços tubulares em todo o estado. Milhares de poços estão abandonados, destampados e sendo fonte de contaminação dos lençóis freáticos e dos aqüíferos. Além disso, muitos poços não são clorados, como determina a Portaria 518 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Em entrevista exclusiva a O Estado, Carlos Borromeu tratou sobre a preocupação dos especialistas com as reservas, manutenção e poluição das águas subterrâneas da capital. Segundo o geólogo, em 10 anos é possível que a capital maranhense enfrente um grave problema de falta de recursos hídricos. “Qualquer pessoa aqui em São Luís compra uma máquina, tira o tanto de água que quer e ninguém sabe de nada. Ninguém faz a medição, ninguém controla ou fiscaliza. Quando é retirada água em excesso, o poço seca e acabando a água doce, o poço passa a receber água salgada, que invade todo o local. Depois que isso ocorre não tem como voltar atrás. Aquele poço não receberá mais água doce”, explicou.
Para que isso não ocorra, segundo o especialista, é necessário, no momento da perfuração, fazer o teste de vazão do poço. Somente então será possível identificar a quantidade de água que poderá ser retirada diariamente do local. “As reservas de água subterrânea são renováveis, pois a própria chuva recoloca a água no subsolo. No entanto, é preciso que haja controle, pois a vazão diária não pode ser ultrapassada, mas ninguém cumpre isso”, destacou.
Outra ameaça às águas subterrâneas da capital, segundo Borromeu, são os lixões, esgotos estourados, postos de combustíveis, principalmente aqueles que hoje estão desativados, e o Aterro Sanitário da Ribeira que, afirma o geólogo, foi construído em solo inapropriado, e já pode ter afetado, em grandes proporções, as reservas de águas subterrâneas que se encontram naquela região, rica em recursos hídricos.Fonte JOEMA.
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