“A grande maioria dos políticos ainda não entendeu que a campanha na WEB só dá certo se combinar confiança, interatividade e colaboração”
Nem parece que somos um país ligadíssimo em internet. A campanha política deste ano, que tinha tudo para bombar na internet, está sem graça, mixuruca, para dizer o mínimo. O efeito Obama e a mobilização digital estão sendo solenemente ignorados pelos principais candidatos majoritários. Eles têm feito suas campanhas na WEB como se estivessem nas ruas, desperdiçando grandes oportunidades.
No caso dos candidatos proporcionais, as gafes se multiplicam. Pedem votos nas redes sociais como se estivessem distribuindos santinhos. São spans ambulantes. Outro dia, um candidato do Rio pediu voto para mim, que sou eleitor em Brasília. Aconteceu o mesmo com um amigo gaúcho, também eleitor na capital.
Que os políticos são avessos às mudanças e transformações, principalmente quando o assunto é tecnologia, não é novidade. Em 1869, o genial Thomaz Edson, inventor da lâmpada elétrica entre outras 1001 utilidades, desenvolveu uma máquina de votar. Levou a invenção ao Congresso dos Estados Unidos e fez uma apresentação para deputados e senadores, que ficaram assombrados com a rapidez com que a tal máquina era capaz de contar os votos dados em plenário. “Vocês não vão mais perder tempo contando votos”, decretou o jovem Edson, então com 22 anos, ao mostrar o bisavô dos atuais painéis de votação.
Seu entusiasmo durou apenas alguns minutos. Um veterano deputado, líder da oposição, chamou-o à parte e disse: “Meu jovem, isto é tudo o que não queremos. Sua invenção vai destruir a única esperança da minoria influir nas decisões legislativas. Leve isso daqui”. A invenção foi para o lixo e somente um século depois, quando o homem já havia pisado na Lua, a Câmara dos Deputados dos Estados Unidos sucumbiu ao painel eletrônico. No Brasil a novidade só apareceu nos anos 1980.
A internet está para a política do século 21 assim como a máquina de Edson esteve para os políticos oitocentistas. A rapidez e grande quantidade de novidades num lugar só dificultam o entendimento. Ainda há o fato de a idade média do Congresso (45 a 50 anos na Câmara e 55 a 60 no Senado) contribuir para isso, já que eles fazem parte da geração pré-digital.
A grande maioria dos políticos ainda não entendeu que a campanha na WEB só dá certo se combinar confiança, interatividade e colaboração. E que, ao fim de uma campanha, vencendo ou perdendo, o político sairá com um patrimônio, um ativo, que são as pessoas que acreditaram nele e estarão dispostas a continuar ao seu lado desde que ele esteja disposto a continuar interagindo com elas. É o caso, por exemplo, de Nick Clegg, o liberal democrata que balançou as eleições inglesas, ou do colombiano Antanas Mockus, do Partido Verde, derrotado na corrida presidencial por Juan Manoel Santos.
A questão central é que a campanha eletrônica é um caminho sem volta. Ela não foi a estrela deste ano eleitoral, mas certamente será em 2012 e em 2014. E a maior prova disso é que os novos eleitores serão sempre eleitores ponto com. Um garoto que tinha 10 anos na eleição de 2002, hoje tem 18, frequenta redes sociais, se informa nos blogs, quer interagir com o candidato e escolhe em quem votar pela internet.
Esta forma de trabalhar com as pessoas vale tanto para quem faz política partidária quanto para quem trabalha com ONGs, sindicatos, corporações, governos, voluntariado e por aí vai. Se o conteúdo do que desejam comunicar não é bem administrado, acabam transformando a internet numa grande rua e se tornam um grande spam. Hoje, o gerente de conteúdo é uma figura importante nas campanhas e nas assessorias de comunicação e formar estes profissionais é um grande desafio.
No Brasil, existe apenas um curso de formação de gerentes de conteúdo que está sendo oferecido pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de Brasília. Será um intensivo que começa no dia 9 de agosto e termina em 1o de setembro. É uma grande oportunidade para quem deseja aprender a trabalhar como a turma de Obama, Clegg e Mockus e se qualificar para fazer a diferença. A era das campanhas sem graça termina em outubro deste ano. Em 2011 começará no Brasil a era da internet como grande instrumento de renovação política.
Marcelo S. Tognozzi
Jornalista e especialista em marketing eleitoral. Diretor da A+B Comunicação
Fonte : Congresso em foco.com.br
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