De O Globo:
Analfabeto até 15 anos, caxiense foi massoterapeuta de Senna
Rio – É um impressionante trajeto, o de Salgado Maranhão. Com muitas vertentes. Do povoado de Cana Brava das Moças (no município de Caxias, no Maranhão), onde nasceu, em 1953, à Universidade de Brown, em Providence, Rhode Island, nos EUA, onde, em 2007, teve a sua poesia estudada. Ou, então, de Teresina, Piauí, onde chegou, aos 15 anos, analfabeto, e descobriu a literatura, ao lançamento de “A cor da palavra” (Editora Imago), volume com sua obra completa – “Até agora”, frisa ele -, nesta quarta-feira, dia 9, na sede da Finep, na Praia do Flamengo.
Será um evento multimídia, com curadoria do poeta Carlos Dimuro (também responsável pelas comemorações dos 80 anos de Ferreira Gullar, conterrâneo e amigo de Maranhão), que terá exposição iconográfica, culinária típica de sua terra e atores e cantores como Zezé Motta, Zeca Baleiro, Camila Pitanga, Cássia Kiss, Alcione, Elba Ramalho e João Donato, entre outros, interpretando algo de sua produção literária.
- Sou um autêntico filho da casa-grande e da senzala – diz Maranhão, num restaurante da Urca, onde vive, revelando um pouco mais de sua admirável história de superação e afirmação. – Meu pai, da oligarquia local, com parentes que governaram o estado, era comerciante e administrador da fazenda onde minha mãe trabalhava. Primeiro filho homem, após três filhas bem mais velhas de seu casamento oficial, ele quis me levar para casa, mas minha mãe não aceitou, dizendo que “quem doa os filhos é cadela”.
E Maranhão foi muito além. A obra agora reunida – sete títulos editados num período de 30 anos, um deles, “Mural de ventos”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1999, e poemas já traduzidos para inglês, francês, alemão, espanhol e holandês – impressiona muita gente do meio. Como o escritor e ensaísta Silviano Santiago, que identifica nela a marca de um “poeta autêntico” em meio à diluição contemporânea.
- Nesses anos em que o poeta se tornou fabricante de versos à cata de emoções, quando não à cata de mercado e de fama, é salutar a presença de Salgado Maranhão no panorama da poesia brasileira. É poeta que extrai a expressão poética da autenticidade da vida. Poesia é vida. Vida é poesia – diz Santiago.
A infância e a adolescência foram difíceis, mas o poeta tem boas lembranças dos tempos com a mãe. Além do trabalho no campo – “Entre as plantas que cultivávamos estava a maconha, usada como chá para a digestão. Só no Rio, nos anos 70, usei-a por algum tempo para fumar e viajar” -, a camponesa Raimunda Salgado dos Santos era muito ligada às tradições culturais do Nordeste:
- Em nossa casa sempre recebíamos os cantadores, os poetas de cordel. Isso me marcou para o resto da vida.
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