O cérebro dos corruptos
Um dos grandes dramas éticos e sociais que temos vividos em nosso dia a dia são as denúncias regulares e constantes de corrupção em todos os cantos e em inúmeras atividades profissionais em nosso país e no mundo. A prática da corrupção toma conta de boa parte dos noticiosos da grande imprensa nacional ao ponto de ser vergonhoso o momento em que vivemos especialmente os que ocorrem na gestão da coisa pública.
Passa a ser vergonhoso e repugnante a forma como isto acontece e a extensão deste fenômeno em diferentes níveis e áreas do poder na gestão de nosso país e ficou tão banalizada a prática da corrupção que parece que estamos ficando indiferentes ou já inteiramente acostumados com estes fatos. Diante disto, parece que está surgindo uma cultura de indiferentismo e de apatia por não existir punições que corrijam ou mesmo que inibam esta situação.
Por isto mesmo estão surgindo no mundo inteiro estudos em neurociências que procuram desvendar os mistérios que há no cérebro de pessoas que praticam a corrupção e outros comportamentos criminosos. Os neurocientistas cada vez mais se empenham para encontrar pontos comuns, por exemplo, no cérebro de um político que mente desvairadamente ao longo de sua carreira ou que desvia milhões do orçamento público para sua conta bancária e tenta explicar sua atitude com total indiferença, ou mesmo aquele vizinho que pede dinheiro emprestado, não paga, jura que vai pagar e some logo após o golpe.
Mais de 300 especialistas, entre psicólogos, psiquiatras e neurologistas, se reuniram ano passado no 6º Congresso de Cérebro, Comportamento e Emoções para discutir se existem alterações biológicas no organismo de quem pratica estas ações e em particular a corrupção.
Já há muitas evidências de que a prática da corrupção está mais afeita a pessoas que apresentam certos distúrbios de personalidade, um grupo de transtornos psiquiátricos graves e de difícil tratamento, por terem deformações funcionais do cérebro muito embora ainda não haja na literatura científicos fatos que mostrem, de forma clara, esta relação cérebro e 'atitude corrupta'. Em contrapartida, temos evidências sólidas, já publicadas, de que pessoas que apresentam comportamentos antissociais, como os que cometem violência, os psicopatas e os dependentes químicos, têm alterações cerebrais significativas e já mapeadas.
Qual o objetivo de investir neste tipo de trabalho? É possível pensar em políticas preventivas para seres humanos corruptos?
Pode ser que no futuro, não muito distante, com o avançar dos conhecimentos neurocientíficos, dos recursos da tecnologia médica e da psicologia comportamental se possa identificar quais os indivíduos que têm maior chance de desenvolverem estes comportamentos de risco de praticarem corrupções, comportamentos antissociais e antiéticos para poder prevenir desde cedo estes sujeitos de assumirem profissões importantes da teia social que prejudiquem as pessoas. É possível, inclusive, fazer acompanhamentos periódicos de diagnóstico de imagem para apurar o que está surtindo efeito. Não sabemos ainda como prevenir a vulnerabilidade à corrupção, mas podemos identificar como alterar circuitos cerebrais que amenizam essa característica.
Outros estudos importantes nesta área que estão sendo desenvolvidos são os sobre a genética deste comportamento, e não há a menor dúvida de que a genética molda o cérebro destes indivíduos. A influência ambiental e sociocultural também são fatores importantes que pesam muito da determinação do comportamento corrupto. Mas cada um destes fatores, seja genético ou sociocultural tem pesos distintos para cada atitude. Algumas pessoas são mais predispostas do que outras a praticar certos tipos de comportamentos e a ocasião, o meio e a sociedade podem incentivar certas posturas. É um mix de fatores, no caso da corrupção já sabemos inclusive que a impunidade é umas das grandes incentivadoras.
*Psiquiatra.
Médico Neuropsiquiatra, Professor de Psiquiatria do Curso de Medicina da (UFMA),
Mestre em Ciências da Saúde (UFMA),
Especialista em Dependência Química pela (UNIFESP),
Ex - Presidente da Academia Maranhense de Medicina.
ruy.palhano@terra.com.br
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