A biografia conta que sacerdote movimentou a cultura, a comunicação e a política da cidade maranhense de Arari.
Polêmico por sua postura revolucionária, monsenhor Clodomir Brandt da Silva, conhecido entre os fiéis do município de Arari como padre Brandt, tornou-se uma referência na região, em meados do século passado, como exímio educador e político oposicionista que contestava, com intransigência, os detentores do poder.
A saga do vigário que faleceu no dia 23 de abril de 1998 aos 81 anos foi transformada na biografia intitulada O universo de padre Brandt, que leva a assinatura do escritor José Fernandes. A obra será lançada nesta sexta-feira (21), às 19h30 na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual do Maranhão (Uema), na Rua da Estrela, 472, antigo prédio da Cemar, na Praia Grande.
No livro, José Fernandes resgata os passos do sacerdote que antes de morrer foi consumido pelo mal de parkison e vivenciou na pequena cidade uma tumultuada experiência de intensas emoções, permeadas por conquistas, enganos, glórias e frustrações. Além dos fatos que fazem parte da história de Arari e do próprio padre Brandt desde a infância, a biografia conta com depoimento de pessoas que conviveram com o sacerdote como Abdelaziz Aboud Santos, o educador Antônio Rafael da Silva, Cleison Fernandes, Francisco Ribeiro Silva Júnior Hilton Mendonça entre outros que por meio de seus olhares remontam a imagem de padre Brandt.
Para José Fernandes escrever sobre a vida de padre Brandt foi a realização de um sonho, pois vai restaurar a memória de um dos maiores educadores do Maranhão de todos os tempos. "Ele teve uma vida extraordinária. A fase das maiores realizações do padre Brandt começou a partir de 1944, com a fundação de colégios e de um jornal, tomando impulso com a inauguração, em 1948, do serviço de alto-falante Voz de Arari", contou José Fernandes.
O escritor relatou que padre Brandt foi um dos primeiros maranhenses a dar importância para a sétima arte, tanto que foi o responsável pela criação do Cine Paroquial de Arari, cinema que para sobreviver e obter lucro, exibia filmes sem preocupação seletiva, muitos de faroeste, famosos pela violência, e outros um tanto eróticos como o protagonizado pela sensual atriz Elvira Pagã, que causou protestos que ecoaram na imprensa em São Luís.
Entusiasta das artes, padre Brandt criou no início dos anos de 1950, o Teatro Experimental, onde ele próprio treinou um grupo de atores que encenou várias peças no auditório do Salão Paroquial da igreja atraindo um bom público pagante. Segundo José Fernandes, o sacerdote também organizou o Coral Santa Cecília com moças e rapazes da região que interpretavam composições clássicas em suas apresentações, algo inédito para época, além da fundação da Escola de Música Carlos Gomes. "Ao promover essas práticas artísticas como o teatro, coral e aprendizagem musical, o pároco mudou a ambiência local, tornando-a mais civilizada", explicou Fernandes.
Padre Brandt também foi o grande responsável pela instalação de um parque gráfico na cidade para tornar viável a editoração do Boletim Paroquial e dos seus futuros livros. Com o equipamento, ele inaugurou a Escola de Artes Gráficas Belarmino de Matos, denominação alusiva ao famoso tipógrafo e editor maranhense do século XIX, impressor da primeira tradução brasileira do livro Os Miseráveis, de autoria do escritor francês Victor Hugo. José Fernandes ressaltou que o estabelecimento foi o primeiro a ser implantado no Maranhão e formou os primeiros tipógrafos e impressores para o mercado profissional.
POLÍTICA BRANDTIANA
Em O universo de padre Brandt, José Fernandes conta que o sacerdote usou o seu talento, o seu prestígio de líder religioso, professor e dirigente de uma escola para aliar-se aos opositores do prefeito de Arari, Antônio Garcia que por mais de duas décadas comandou a cidade. O escritor explicou que padre Brandt ingressou na política local por conta de uma decepção com o então governador que entregara a direção do partido da situação a Theodoro Batalha, ex-católico colaborador da Igreja, que teria se convertido a Assembleia de Deus.
A sua primeira atitude ostensiva foi criar o Movimento Católico Arariense, que era uma espécie de ala política destinada a combater os protestantes, a quem chamava de hereges, que no fundo, servia de pretexto para implantar uma oposição aguerrida. "Consciente de sua força política, padre Brandt teve a feliz ideia de candidatar à prefeitura na eleição de 1950, Justina Fernandes Rodrigues, conhecida como Dona Bembém, descendente da aristocracia rural, e o conceituado enfermeiro Antônio de Jesus Santos, o Tonico Santos, pai do cantor Zeca Baleiro como vice-prefeito que foram eleitos sepultando de vez a hegemonia política de Antônio Anísio Garcia, o mais antigo líder político de Arari de todos os tempos", contou Fernandes.
Para Mauro Rego, que assina a orelha do livro, a juventude, a cultura, a brilhante oratória de padre Brandt fizeram dele não somente um sacerdote que manteve total domínio sobre seus paroquianos, como também um ser partidário que levou seus seguidores a subserviência, chegando estes a se armarem para defende-lo de hipotéticas ameaças. "Mais do que um ensaio, esta é uma bibliografia bem apurada, um dos melhores livros da atual safra literária", acrescentou Mauro Rego.
SERVIÇO
O quê? Lançamento do livro O universo de padre Brandt
Quando? Nesta sexta-feira (21), às 19h30
Onde? Na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual do Maranhão (Uema), na Rua da Estrela, 472, antigo prédio da Cemar, na Praia Grande
Quanto? R$ 20 (preço de lançamento)
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