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Matizes de segregação - Bruno Peron


Autor: Bruno Peron



As desigualdades convertem-se em segregações que dificultam a tarefa dos formuladores de políticas públicas e dos idealizadores do convívio na diversidade (como aquele de “unidade na diversidade”). Da época em que se podia reduzir os fatores desigualadores com estratégias macroeconômicas e macrossociais chegamos a outra em que se faz necessário pensar nos níveis de interação antrópica, tais como a relação entre cultura e desenvolvimento. Sugiro, portanto, algo mais que apenas pensar no “social” ao propor ações políticas.

As cidades latino-americanas compreendem o maior exemplo de paroxismo das contradições das ex-metrópoles, que não perdem de longe em negligência humana. Insistimos em aplicar aqui medidas que não deram certo lá. As segregações urbanas são uma forma de evitar contato direto entre desiguais (enjaulamento das casas, fuga a condomínios fechados, carros blindados e com vidros sempre fechados nos semáforos, preço alto para entrada a eventos, preferência pela gastronomia internacional aos restaurantes de comida caseira, etc.).

Por sua vez, áreas urbanas europeias não segregam menos. A despeito de que as repetitivas e triviais casas inglesas no estilo vitoriano praticamente prescindam de portões altos porque até então não precisam deles, as pessoas ignoram-se nas ruas de Londres. No transporte público, quase todos se distraem em suas cápsulas (jornais, celulares, tabletes, laptops, MP3 e fones de ouvido). Ainda, o termo “sorry” deixa de simbolizar somente um pedido de desculpas e passa a ser ferramenta de “grupos étnicos” para quebrar o clima de indiferença.

Uma das desconformidades entre América Latina e Europa neste assunto é que, na primeira região, a segregação é preponderantemente objetiva, enquanto ela é subjetiva no continente europeu. Varia também o grau em que e a razão pela qual a segregação condiciona-se em cada lugar geográfico. Ambas têm em comum a rudimentaridade de desconhecer princípios de irmandade e de modos de vida comunitários que ofereçam alternativa ao individualismo.

O mundo digital não escapa dos matizes de segregação: velocidades maiores ou menores de acesso à Internet de acordo com a renda familiar e a disponibilidade de banda larga no bairro, redução da privacidade de usuários pelo acesso de terceiros a seu histórico de navegação (cookies) e a posterior publicidade dirigida, uso de senhas para acessar conteúdos comerciais, e grupos de amigos que não aceitam xeretas desconhecidos em suas redes anti-sociais.

As sociedades modernas testemunham a redução do contato direto entre pessoas e o aumento de eficiência na satisfação de necessidades básicas. Grandes redes de supermercados na Inglaterra investem no sistema de caixas “self-checkout”, em que o consumidor faz suas compras sem necessariamente trocar um olhar ou uma palavra com ninguém. Tampouco lhe importa a consequência imediata de redução de empregos neste setor de serviços.

O sociólogo francês Pierre Bourdieu descobriu, durante seus estudos, que o conhecimento das artes e das ciências democratiza-se apenas formalmente por meio de políticas que ampliam o acesso e o consumo de todos; no entanto, poucos têm a capacidade de interpretar os significados complexos do “capital simbólico” que acedem, por exemplo, numa exposição de artes plásticas, um salão de tiras humorísticas ou uma feira científica. Portanto, a cultura e a educação não se democratizam tão facilmente na prática quando, para a consumação deste processo, é preciso que seu receptor tenha algum preparo prévio.

Por esta razão, resulta estranho que o programa federal do Vale Cultura fomente o consumo da Cultura pelas classes trabalhadoras no Brasil sem lhes dar condição de saber o que estão fazendo e por que devem fazê-lo ou até de gerar seus produtos culturais próprios. Escrevo Cultura propositalmente com maiúscula porque a Turma da Cultura dos escritórios governamentais vê pouca alternativa de “aculturação” dos setores populares que ir ao teatro, a salões artísticos de elite e ver o último filme do Homem Morcego no cinema.

A este mistifório entre segregações sociais, virtuais e de consumo cultural, as soluções deverão ser matizadas e meticulosamente planejadas. Do contrário, teríamos mais algumas décadas de desenvolvimento latino-americano à deriva da realização humana no convívio.

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