Está causando revolta nas redes sociais a denúncia do assassinato de uma criança indígena, da etnia Awa-Gwajá, que teria sido queimada por madeireiros na região da terra indígena de Araribóia, no município de Arame-MA. A denúncia foi feita por índios guajajaras à jornalista Alice Pires, da OAB, e a Gilderlan Rodrigues da Silva, do Conselho Indigenista Missionário – CIMI.
Segundo Gilderlan, os guajajaras das aldeias Jititiua e Patisal, durante suas atividades de caça, já vinham
travando algum contato com o grupo Awá que se encontrava acampado a cerca de 20 km da aldeia Patisal. Desde o final de setembro, entretanto, com a entrada de madeireiros na área do acampamento, surgiram relatos de conflitos e os Awá se retiraram da área. A morte do indígena teria acontecido neste período. O CIMI está buscando mais informações sobre o caso, inclusive um novo contato com o índio Clóvis Guajajara, liderança da aldeia Patisal, que teria visto o corpo e repassado a informação à organização, para fazer uma denúncia formal.
Por telefone, o chefe de posto da Funai em Amarante, Luís Carlos Guajajaras, também confirmou que vários indígenas da região estão relatando este caso, mas que ainda não pôde fazer uma visita ao local do acampamento, onde estaria o corpo carbonizado. “Como é uma região de conflitos, é bastante perigoso andar por lá”, explica. Segundo ele, os indígenas da região dizem que há restos humanos em uma coivara – fogueira feita com a madeira que será dispensada em uma ação de desmatamento –, mas não soube precisar se seriam de uma criança. Acredita-se que a morte tenha sido causada por madeireiros exatamente pela situação de conflito e pelo fato da possível vítima estar queimada em um resto de desmatamento. Mas não há confirmação das condições em que teria acontecido a morte.
Não foi possível fazer contato com nenhum indígena da região que tenha visto o corpo. Há relatos de que os guajajaras que foram até o local do acampamento chegaram a fazer um vídeo do corpo, com um celular, mas o CIMI ainda está buscando essa gravação.
Ninguém obteve relatos diretos dos Awás que pudessem esclarecer o que de fato aconteceu antes do grupo deixar o acampamento. “Pelas informações que recebemos, eles devem estar próximos à Lagoa Comprida, em Amarante, área mais protegida da ação dos madeireiros”, informa Gilderlan. O CIMI nacional deve emitir uma nota pedindo a apuração das denúncias. “O histórico de violência contra indígenas na região é grande e já foram feitas denúncias de situações diversas ao Ministério Público de Imperatriz e à Frente de Proteção Etnoambiental da Funai”, conclui Gilderlan.
No momento, ainda não há investigações conduzidas pela Polícia, pois não há uma denúncia formal. É importante ressaltar que a Funai já tem conhecimento das denúncias desde novembro, mas não realizou nenhuma visita à área para confirmar a existência do corpo.
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Eliano Jorge
Um representante dos indígenas Guajajara afirma que madeireiros mataram uma menina da etnia Awá-Gwajá, ateando fogo nela, numa área de mata, em Arame, no Maranhão, na semana passada. A região vem registrando uma série de agressões a índios nos últimos meses.
Os Awá-Gwajá mantêm-se isolados, sem contato com outras tribos ou com os não-indígenas. A Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) ainda buscam mais informações sobre o assassinato.
Outro indígena, que também se identificou como pertencente à etnia Guajajara, em conversa com Terra Magazine, confirmou o homicídio:
- Dia 30, por aí assim. Foi dentro do mato. Os madeireiros estavam comprando madeira na mão dos índios (Guajajara) e acharam uma menininha Gwajá. E queimaram a criança. Só de maldade mesmo. Ela é de outra tribo, eles vivem dentro do mato, não têm contato com os brancos, são brabos.
- Dia 30, por aí assim. Foi dentro do mato. Os madeireiros estavam comprando madeira na mão dos índios (Guajajara) e acharam uma menininha Gwajá. E queimaram a criança. Só de maldade mesmo. Ela é de outra tribo, eles vivem dentro do mato, não têm contato com os brancos, são brabos.
Ele admitiu que sua etnia Guajajara descumpriu a lei ao negociar madeira, mas se queixou da invasão naquele território. Reclamando de "muita discriminação" e violência contra indígenas, atestou:
- Quase todo dia em Arame. Os brancos ficam batendo nos índios lá. Não acontece nada, ninguém resolve nada. A gente não sabe nem contar mais porque são muitos casos. Eles (da Funai) sabem. A gente informa e...
- Quase todo dia em Arame. Os brancos ficam batendo nos índios lá. Não acontece nada, ninguém resolve nada. A gente não sabe nem contar mais porque são muitos casos. Eles (da Funai) sabem. A gente informa e...
Sobre providências tomadas pela Funai, ele respondeu com desânimo: "Hum, pior". E incluiu a polícia: "Eles não resolvem nada". Recentemente, houve protestos de indígenas na região.
- O último caso que aconteceu foi que bateram num índio, na praça pública de Arame. Espancaram demais. Não se sabe com quem fala quando acontece isso. A polícia não resolve, né? Nem os casos deles (não-indígenas). Não tem quem socorra, para a gente falar depois quando acontece assassinato de índio. Fica por isso mesmo - lamentou o Guajajara.
Registros oficiais
Um funcionário da Funai que prefere o anonimato disse que a entidade enfrenta dificuldades por ter sofrido um processo de intervenção e interrompido suas atividades. Informa também que os dados de 2011 sobre agressões contra indígenas ainda não estão prontos. Porém, ratifica: "São muitos casos que acontecem durante o ano"
Relatório do Cimi aponta 452 assassinatos de indígenas no Brasil entre 2003 e 2010. Em 2007, foram noticiadas 92 homicídios. Em cada um dos três anos seguintes, foram 60. As estatísticas do ano passado devem ser divulgadas em março.
A mobilização na internet parece estar funcionando. Segundo o portal IG, a Funai já enviou uma comissão pra Arame e promete laudo até segunda-feira: http://migre.me/7qWrI
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