Editorial do JB de hoje
Não se pode usar a expressão ironia do destino, porque o episódio foi trágico. No entanto, chama a atenção de todos o tiro de fuzil que um jovem levou, nas pedras do Arpoador, pouco depois da realização da Parada do Orgulho Gay, na vizinha orla de Copacabana. O movimento, que reuniu centenas de milhares de pessoas no domingo, serviu para reivindicar punições mais rigorosas para os crimes de homofobia.
Douglas Ivo Marques, de 19 anos, foi alvejado com um tiro quando namorava no famoso recanto de Ipanema. Segundo depoimento da mãe dele, o grupo que se dirigiu para lá depois da parada gay, fora repreendido minutos antes do tiro por militares do Exército lotados no forte contíguo. O Comando Militar do Leste nega que a bala tenha partido do fuzil de um de seus homens, e a delegacia da área ainda está investigando o caso.
Naquela mesma noite, na Avenida Paulista, em São Paulo, também usada para evento semelhante em prol da tolerância e da diversidade, outro crime bárbaro foi praticado, e com viés homofóbico.
De acordo com testemunhas, um grupo de jovens – quatro deles menores de idade – resolveu espancar um casal de rapazes que transitava pela via. Um deles conseguiu fugir, mas o outro foi covardemente agredido e só escapou da morte graças à intervenção de seguranças de edifícios da região.
Na delegacia, a mãe de um dos agressores disse que o filho sempre foi criado com carinho e que teria agido sob o incentivo dos colegas. A vítima, golpeada com lâmpadas de tungstênio, está em estado delicado no hospital.
A estrada para a aceitação de todas as diferenças numa sociedade é longa e tortuosa. Quando a diversidade vai de encontro a tabus seculares como a homossexualidade, esse caminho fica ainda mais difícil e perigoso. Basta observar que o Exército brasileiro, um dos pilares da nação, se viu envolvido nesse novo caso de violência contra gays, no Arpoador.
É o caso de o Brasil repensar seu sistema educativo além dos valores e preconceitos incutidos na sociedade e nas instituições. Porque, nessa questão, para cada passo adiante costuma haver um retrocesso
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