Vaticano intercede por iraniana condenada à morte e que levou 99 chicotadas: "
O Vaticano afirmou neste domingo estar acompanhando de perto o caso da iraniana condenada à morte por apedrejamento, e que pode intervir usando os meios diplomáticos em apoio à mulher.
O anúncio foi feito após o filho de Sakineh Mohammadi Ashtiani, Sajjad Ghaderzadeh, ter feito um apelo ao papa Bento 16 e ao governo italiano para intervirem pela vida de sua mãe, em entrevista a agência de notícias italiana Adnkronos.
'A Santa Sé está acompanhando o caso com atenção e participação', disse o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, em comunicado. 'A posição da Igreja contra a pena de morte é bem conhecida e o apedrejamento é uma forma particularmente brutal dela.'
Quando é feito um pedido por intervenção em assuntos humanitários pertencentes a outro Estado, o Vaticano intervém por meios diplomáticos em vez de publicamente, afirma o comunicado.
O governo italiano renovou neste domingo seu apelo ao Irã para que não execute Sakineh, pedindo que Teerã considere 'um gesto de clemência' no caso.
99 chicotadas
Ontem, o filho da iraniana afirmou que o Irã teria condenado sua mãe a receber mais 99 chicotadas na prisão por ter 'propagado a corrupção e a indecência' após permitir a divulgação de uma foto sua em um jornal britânico. A afirmação foi feita pelo advogado que representa a iraniana, baseados em relatos de detentas libertadas recentemente da prisão de Tabriz, onde Sakineh é mantida há quatro anos. As informações foram publicadas pela revista digital francesa 'La règle du jeu' e o blog 'Dentelles et Tchador', mas ainda não foram oficialmente confirmadas.
'O advogado de minha mãe, Hutan Kian, foi informado ontem por detentas da penitenciária que acabavam de ser libertadas', explicou Sajjad, que estava na cidade de Tabriz, noroeste do Irã. 'Ele entrou em contato com o juiz independente da penitenciária, que confirmou a pena.'
A fotografia em questão foi publicada em 28 de agosto pelo jornal britânico 'Times'. Era a fotografia de uma mulher sem véu, que foi apresentada como sendo Sakineh. Na verdade, era outra pessoa, e o jornal acabou pedindo desculpas aos leitores pelo erro, informa o 'The Guardian'.
A mulher retratada era Susan Hejrat, uma ativista política iraniana que vive na Suécia, cuja foto foi publicada na internet junto a um artigo que ela escreveu sobre o caso de Sakineh, o que pode ter gerado a confusão, explica o 'Guardian'.
'Segundo o que sabemos até o momento, a sentença de 99 chicotadas ainda não foi aplicada. Assim que recebi as desculpas do 'Times' pela foto identificada incorretamente, eu imediatamente informei o advogado e vamos entrar com uma apelação. Minha mãe não pode receber visitas nas últimas duas semanas, ninguém pode visitá-la, incluindo a família e até mesmo o advogado. Ela também não pode fazer ligações, e nós estamos completamente sem contato', disse o filho de Sakineh ao jornal britânico 'Observer'.
Pressão
Na última quinta-feira (2), o filho de Sakineh afirmou que somente uma mobilização constante poderá salvar sua mãe, em uma entrevista ao jornal francês 'Libération'. 'Eu lhes peço, não a abandonem. São vocês, uma vez mais, que nos têm nas mãos. Se não fosse por vocês, minha mãe já estaria morta', pediu Sajjad.
A condenação de Sakineh à morte por apedrejamento causou uma campanha mundial para evitar a punição, que foi temporariamente suspensa. 'Mas suspensa não quer dizer anulada', insistiu Sajjad.
Para tentar salvar Sakineh, Lévy lançou uma petição que já conseguiu mais de 51 mil assinaturas, segundo o site laregledujeu.org.
O filho da iraniana descreve as condições 'muito duras' de detenção de sua mãe em Tabriz, no oeste do Irã, onde 'é submetida a interrogatórios incessantes por parte dos serviços de inteligência iranianos'.
Como já tinham afirmado os advogados de Sakineh, Sajjad assegurou que sua mãe 'foi torturada' antes de confessar, em 11 de agosto, em entrevista à TV estatal iraniana, que o homem com o qual tinha relações matou seu marido diante dela.
'As autoridades precisavam dessas confissões para pode reabrir a acusação de assassinato de meu pai', explicou Sajjad.
Caso Sakineh
Mãe de dois filhos, Sakineh foi condenada em maio de 2006 a receber 99 chibatadas por ter um 'relacionamento ilícito' com um homem acusado de assassinar o marido dela. Sua defesa diz que Sakineh era agredida pelo marido e não vivia como uma mulher casada havia dois anos, quando houve o homicídio.
Mesmo assim, ela foi, paralelamente à primeira ação, julgada e condenada por adultério. Ela chegou a recorrer da sentença, mas um conselho de juízes a ratificou, ainda que em votação apertada --3 votos a 2.
Diplomatas iranianos afirmam que foi encerrado o processo de adultério e que a mulher é acusada 'apenas' pelo assassinato do marido. Os juízes favoráveis à condenação de Sakineh à morte por apedrejamento votaram com base em uma polêmica figura do sistema jurídico do Irã chamada de 'conhecimento do juiz', que dispensa a avaliação de provas e testemunhas.
Assassinato, estupro, adultério, assalto à mão armada, apostasia e tráfico de drogas são crimes passíveis de pena de morte pela lei sharia do Irã, em vigor desde a revolução islâmica de 1979. O apedrejamento foi amplamente utilizado nos anos após a revolução, mas a sentença acabou em desuso com o passar dos anos.
Sob as leis islâmicas, a mulher é enterrada até a altura do peito e recebe pedradas até a morte.
Fontes: Reuters - AP - UOL "
Franceses protestam em frente a Torre Eifel por condenação de iraniana. Foto: Mal Langsdon/Reuters - 28.ago.10 |
O anúncio foi feito após o filho de Sakineh Mohammadi Ashtiani, Sajjad Ghaderzadeh, ter feito um apelo ao papa Bento 16 e ao governo italiano para intervirem pela vida de sua mãe, em entrevista a agência de notícias italiana Adnkronos.
'A Santa Sé está acompanhando o caso com atenção e participação', disse o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, em comunicado. 'A posição da Igreja contra a pena de morte é bem conhecida e o apedrejamento é uma forma particularmente brutal dela.'
Quando é feito um pedido por intervenção em assuntos humanitários pertencentes a outro Estado, o Vaticano intervém por meios diplomáticos em vez de publicamente, afirma o comunicado.
O governo italiano renovou neste domingo seu apelo ao Irã para que não execute Sakineh, pedindo que Teerã considere 'um gesto de clemência' no caso.
99 chicotadas
Ontem, o filho da iraniana afirmou que o Irã teria condenado sua mãe a receber mais 99 chicotadas na prisão por ter 'propagado a corrupção e a indecência' após permitir a divulgação de uma foto sua em um jornal britânico. A afirmação foi feita pelo advogado que representa a iraniana, baseados em relatos de detentas libertadas recentemente da prisão de Tabriz, onde Sakineh é mantida há quatro anos. As informações foram publicadas pela revista digital francesa 'La règle du jeu' e o blog 'Dentelles et Tchador', mas ainda não foram oficialmente confirmadas.
'O advogado de minha mãe, Hutan Kian, foi informado ontem por detentas da penitenciária que acabavam de ser libertadas', explicou Sajjad, que estava na cidade de Tabriz, noroeste do Irã. 'Ele entrou em contato com o juiz independente da penitenciária, que confirmou a pena.'
A fotografia em questão foi publicada em 28 de agosto pelo jornal britânico 'Times'. Era a fotografia de uma mulher sem véu, que foi apresentada como sendo Sakineh. Na verdade, era outra pessoa, e o jornal acabou pedindo desculpas aos leitores pelo erro, informa o 'The Guardian'.
A mulher retratada era Susan Hejrat, uma ativista política iraniana que vive na Suécia, cuja foto foi publicada na internet junto a um artigo que ela escreveu sobre o caso de Sakineh, o que pode ter gerado a confusão, explica o 'Guardian'.
'Segundo o que sabemos até o momento, a sentença de 99 chicotadas ainda não foi aplicada. Assim que recebi as desculpas do 'Times' pela foto identificada incorretamente, eu imediatamente informei o advogado e vamos entrar com uma apelação. Minha mãe não pode receber visitas nas últimas duas semanas, ninguém pode visitá-la, incluindo a família e até mesmo o advogado. Ela também não pode fazer ligações, e nós estamos completamente sem contato', disse o filho de Sakineh ao jornal britânico 'Observer'.
Pressão
Na última quinta-feira (2), o filho de Sakineh afirmou que somente uma mobilização constante poderá salvar sua mãe, em uma entrevista ao jornal francês 'Libération'. 'Eu lhes peço, não a abandonem. São vocês, uma vez mais, que nos têm nas mãos. Se não fosse por vocês, minha mãe já estaria morta', pediu Sajjad.
A condenação de Sakineh à morte por apedrejamento causou uma campanha mundial para evitar a punição, que foi temporariamente suspensa. 'Mas suspensa não quer dizer anulada', insistiu Sajjad.
Para tentar salvar Sakineh, Lévy lançou uma petição que já conseguiu mais de 51 mil assinaturas, segundo o site laregledujeu.org.
O filho da iraniana descreve as condições 'muito duras' de detenção de sua mãe em Tabriz, no oeste do Irã, onde 'é submetida a interrogatórios incessantes por parte dos serviços de inteligência iranianos'.
Como já tinham afirmado os advogados de Sakineh, Sajjad assegurou que sua mãe 'foi torturada' antes de confessar, em 11 de agosto, em entrevista à TV estatal iraniana, que o homem com o qual tinha relações matou seu marido diante dela.
'As autoridades precisavam dessas confissões para pode reabrir a acusação de assassinato de meu pai', explicou Sajjad.
Caso Sakineh
Mãe de dois filhos, Sakineh foi condenada em maio de 2006 a receber 99 chibatadas por ter um 'relacionamento ilícito' com um homem acusado de assassinar o marido dela. Sua defesa diz que Sakineh era agredida pelo marido e não vivia como uma mulher casada havia dois anos, quando houve o homicídio.
Mesmo assim, ela foi, paralelamente à primeira ação, julgada e condenada por adultério. Ela chegou a recorrer da sentença, mas um conselho de juízes a ratificou, ainda que em votação apertada --3 votos a 2.
Diplomatas iranianos afirmam que foi encerrado o processo de adultério e que a mulher é acusada 'apenas' pelo assassinato do marido. Os juízes favoráveis à condenação de Sakineh à morte por apedrejamento votaram com base em uma polêmica figura do sistema jurídico do Irã chamada de 'conhecimento do juiz', que dispensa a avaliação de provas e testemunhas.
Assassinato, estupro, adultério, assalto à mão armada, apostasia e tráfico de drogas são crimes passíveis de pena de morte pela lei sharia do Irã, em vigor desde a revolução islâmica de 1979. O apedrejamento foi amplamente utilizado nos anos após a revolução, mas a sentença acabou em desuso com o passar dos anos.
Sob as leis islâmicas, a mulher é enterrada até a altura do peito e recebe pedradas até a morte.
Fontes: Reuters - AP - UOL "
Comentários
Postar um comentário
Comentando os Fatos, uma nova forma de divulgar conteúdo com credibilidade. Nosso compromisso é divulgar informações diferenciadas, com checagem, apuração e seriedade.
Aqui oferecemos aquele algo mais que ainda não foi dito, ou mostrado.