por Luiz Carlos Azenha
A Conceição Oliveira, do Maria Frô, definiu bem: os blogueiros mais velhos devem ensinar aos mais novos como fazer política; e os mais novos devem ensinar tecnologia aos mais velhos. Foi a respeito de um momento que considero simbólico no debate final do Encontro Nacional de Blogueiros, quando aqueles que queriam incluir a palavra “mídia colaborativa” na carta foram derrotados pela grande maioria. Perderam duas vezes, por não terem conseguido explicar o que queriam dizer com isso. Talvez não tenham tido tempo de fazê-lo. Vou tentar explicar esse distanciamento entre as gerações.
Quando leio os portais da grande mídia e mesmo quando leio a Carta Maior, a Caros Amigos e a CartaCapital na internet, percebo que todos estão ainda na internet do século 20. Na internet 1.0. Na internet verticalizada , em que os editores decidem e os leitores lêem. Sim, há caixas de comentários. E há espaço para os leitores se manifestarem, enviando fotos e informações, em alguns portais. Mas esses espaços ainda refletem, acima de tudo, a transposição da lógica da imprensa escrita para o espaço virtual. O leitor está ali, mas ainda é tratado como se fosse hierarquicamente inferior aos jornalistas e aos editores.
É uma lógica reproduzida por muitos blogueiros e que fazia sentido quando a internet começou a se transformar em um espaço para furar o bloqueio da grande mídia. Muitos blogueiros se tornaram, eles próprios, micro-barões da mídia, com poder de veto sobre os comentários e a condução da linha editorial do espaço. Fazia sentido, quando não existiam ainda as ferramentas da internet 2.0, da chamada mídia colaborativa ou horizontalizada.
Quais são essas ferramentas? O twitter e o formspring, os microblogs que permitem a você trocar informações com outros internautas; as redes sociais como o facebook e o orkut, em que você se integra a uma comunidade de internautas; e ferramentas como o twitpic, a twitcam e o ustream, que permitem a você enviar e receber imagens de internautas e transmitir vídeo ao vivo enquanto interage com os leitores. Há dezenas de outras, essas são apenas as mais conhecidas.
O que significam essas ferramentas? Basicamente, interação.
Qual a consequência do uso delas por um blogueiro? Fica implícito que ele desce do pedestal, se iguala aos leitores, passa a ser apenas o coordenador do espaço, que na verdade é tocado pelos interesses dos leitores e comentaristas.
A longo prazo, seria o fim do jornalismo industrial. Seria, não, será. Talvez eu não viva para testemunhar isso, mas o papel tradicional da mídia, assim chamada por pretender fazer a mediação entre os diversos atores sociais, receberá um estaca no coração cravada pela “mídia colaborativa”.
As razões para isso residem no fato de que há uma infinidade de leitores do blog muitos mais qualificados do que eu para escrever sobre engenharia, medicina, informática e política. Para fazer humor ou opinar sobre imperialismo. Para tratar de questões éticas ou legais. E essas pessoas começam a participar da blogosfera, criando seus próprios espaços ou comentando nos já existentes.
Como demonstrei no Encontro Nacional de Blogueiros, onde apresentei a minha “mala de ferramentas” (câmeras, gravadores, cabos de conexão etc.), quando quero carrego comigo uma emissora de rádio, de TV e um jornal. Quanto Assis Chateaubriand gastou para formar seu império? E o Roberto Marinho? Guardadas as devidas proporções, as novas tecnologias de informação permitem a um blogueiro ter seu mini-império com menos de 5 mil reais de capital.
Qual é a diferença essencial entre ele, blogueiro, e o jornalista que trabalha em uma corporação? A liberdade para falar e escrever o que quiser, desde que se submeta de maneira elegante à chuva de críticas de seus próprios leitores, se for o caso. Sim, porque os leitores deixam de ser apenas receptores calados de informação. Eles opinam, criticam, acrescentam e anunciam na caixa de comentários. Funcionam como abelhas em um processo de polinização. Trazem sugestões de textos, insights e informações que muitas vezes se transformam em posts, ou seja, os leitores se tornam co-responsáveis pelo espaço.
É justamente por isso que, como notou o Rodrigo Vianna, do Escrevinhador, talvez o foco do Segundo Encontro Nacional de Blogueiros deva ser na troca de informações entre os blogueiros sobre essas novas tecnologias. Fizemos alguns painéis que tiraram o fôlego do público, tantas eram as novidades sobre as quais falamos.
Já antevejo o passo seguinte: esses blogueiros, futuramente, poderão ser os professores dessas tecnologias em seus bairros, em escolas técnicas ou junto aos movimentos sociais. Aliás, já combinei com o Hélio Paz, do Heliopaz, de participar de uma ou mais oficinas no Rio Grande do Sul, onde a blogosfera bomba.
Essas tecnologiais, obviamente, são politicamente neutras, mas devem ser apropriadas para que um número cada vez maior de brasileiros possa produzir conteúdo informativo e participar direta e ativamente do trabalho de aprofundamento de nossa nascente democracia.
PS: Registro, com satisfação, que muitos leitores do Viomundo participaram do Encontro. O Gerson Carneiro me escapou, mas o Glécio Tavares e o Francisco Latorre foram obrigados a me ouvir.
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