Pular para o conteúdo principal

O pipoqueiro do Teatro Sérgio Cardoso

O pipoqueiro do Teatro Sérgio Cardoso: "

Por Marcos P.B.


O pipoqueiro que sabe tudo de teatro


Pernambucano que faz ponto na frente do Sérgio Cardoso virou figura conhecida do público e dos atores e dá palpites sobre peças em cartaz

11 de abril de 2010 | 0h 00


Valéria França / TEXTO e Sergio Neves / FOTO – O Estado de S.Paulo


Nos últimos 35 anos, o pernambucano Severino João de Lima, de 56, tem levado seu carrinho de pipoca para a frente do Teatro Sérgio Cardoso, na Bela Vista, região central de São Paulo, transformando-se numa das figuras mais conhecidas do público. E não é só uma questão de fidelidade ao ponto. Quem frequenta a casa sabe que sua pipoca quentinha vem com pitadas de críticas sobre o espetáculo. Tem até quem o consulte antes de comprar o ingresso para saber se a peça vale mesmo o investimento.


Apesar de ter cursado apenas até a 4.ª série do ensino fundamental, Lima assistiu a mais de 200 peças. Sua incursão artística começou no início dos anos 70, quando colocou o primeiro carrinho de pipoca na frente do Teatro Ruth Escobar, também na Bela Vista. “O teatro ainda parecia uma pensão velha e a Ruth era novinha”, conta Lima. “A portuguesa não tinha um tostão.”


Lima sempre ganha ingressos, mas não os repassa. Costuma assistir às peças. E conquistou a simpatia de muitos famosos. “A Ruth sempre protegeu o meu carrinho de pipoca, dando abrigo quando a Prefeitura aparecia para fiscalizar.” Até hoje ele não conseguiu a licença para trabalhar. “Cheguei a abrir uma empresa e pago INSS, mas a licença o Kassab não dá.”


Lima também caiu nas graças do ator Antônio Fagundes. “Ele é humilde. Conversa com todos na rua. Às vezes, faz tipo e vai para a bilheteria vender os ingressos de sua peça. Ele sabe que a mulherada enlouquece.” Lima diz que Fagundes é público certo.


“Tem quem vá ao teatro só por causa do ator. E esse é o público do Fagundes”, garante. “Você não tem ideia. Ele adora pé de mulher. Elas sabem disso. Então todas aparecem aqui no teatro de rasteirinha, aquele modelo sem salto, que deixa o pé bem à mostra.”


Há um outro tipo de público, revela o pipoqueiro. “As plateias do Paulo Autran e da Ruth Escobar eram diferentes. São pessoas mais velhas, que vão ao teatro por causa da peça. Sabem o nome do diretor e do autor.”


Avaliação. Mas qual é seu critério para dizer se uma peça é boa ou ruim? “Nunca digo que a peça é ruim. Se alguém pergunta – e é este o caso -, sugiro que a pessoa assista a outro espetáculo. Dou o nome da peça e do teatro. Só indico o que sei que vale a pena.”


A avaliação do pipoqueiro não é um simples palpite. Depois de assistir ao espetáculo, ele leva em conta a opinião de alguns espectadores assíduos e sempre confere a lotação da casa. “Quando um grupo não consegue público, apela para uma aparição na TV, como no Programa do Jô. Se o grupo aparece lá e a casa não lota, não tem jeito. Fico em casa e deixo meu carrinho no estacionamento, pois não vai ter para quem vender pipoca.”


Algumas peças, segundo ele, são imbatíveis no quesito público. “Ópera do Malandro (1979) foi um sucesso. Teve cambista que ficou rico. Tudo que o Chico (Buarque) assina é pipoca certa. Ubu-Rei (1985) também fez muito sucesso. Mas eu gostei mesmo foi de Rasga Coração (1979), com Raul Cortez.”


Clandestino. Lima veio de Glória do Goitá, município pernambucano da Zona da Mata, escondido debaixo de uma lona de caminhão, no início dos anos 70. A comida deu apenas para o primeiro dia de viagem. Só no Estado de São Paulo o motorista descobriu o passageiro clandestino. “Contei a minha história e então ele deixou que eu ficasse ali até chegar ao centro da cidade. Ele me largou na antiga rodoviária. Não tinha parente. Foi quando descobri que era prisioneiro da cidade. Sem dinheiro, não tinha como voltar para casa.”


Durante 15 dias, Lima dormiu em um banco da Praça Buenos Aires, em Higienópolis, região central. Na época, apesar de a identidade registrar que era maior de idade, o pipoqueiro tinha pouco mais de 12 anos. “Não sei minha idade ao certo porque minha mãe morreu no parto do 9.º filho. Minha irmã mais velha deveria estar com 9 anos, acho, e eu, uns 5. Não sei o dia que nasci nem o ano. Nunca tive papel. Um dia, um político da região, em troca de voto, deu documento para todos da família. E no meu primeiro RG já veio 18 anos.”


Até hoje Lima se emociona ao ouvir a música Dormi na Praça, de Bruno e Marrone. “É aquilo mesmo: “Seu guarda/ Eu não sou vagabundo/Eu não sou delinquente/ Sou um cara carente””, cantarola.


A sorte mudou quando arrumou emprego numa obra. Trabalhando num prédio dos Jardins, conheceu o pipoqueiro do Colégio Dante Alighieri, na zona sul. “Ele disse que era um bom negócio. Então, comprei meu primeiro carrinho.” Dos Jardins, ele foi para a Bela Vista. É bom trabalhar no Sérgio Cardoso? “Seria melhor se a Prefeitura me desse a licença e eu não perdesse minha mercadoria frequentemente para os fiscais. Adoro teatro.”


fonte :

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100411/not_imp536767,0.php


Comentário


E o pipoqueiro do Cine Gazeta?


Há uns dez anos ele me visitou na DV, mas sem avisar. Minha secretária me ligou, quando estava a caminho do aeroporto. E ele me contou que, no começo dos anos 70 morava em Poços. Era menino de rua, com problemas de fala e de locomoção. A mãe o levava diariamente para pedir esmolar no centro. Meu pai viu, pegou-o, trouxe até a Beneficência, pagou o tratamento. E, depois, quando estava melhor, conseguindo falar com clareza, comprou seu primeiro carrinho de pipoca.


E nunca contou nada, nem para a família.


Quem souber por onde anda o pipoqueiro – que, parece que ainda tem problemas de locomoção – favor me avisar.


Para acompanhar pelo Twitter:clique aqui


"

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Pepe Moreno: e o cego com três filhos aleijados

Pepe Moreno: e o cego com três filhos aleijados : " do BLOG DO NILTON SUMIU Veja a historia do cego que se casou com sua prima, e da união nasceu (03) filhos aleijados, e o famoso cantor do risca faca, Pepe Moreno, se comoveu com a historia, e passou a ajudar o casal! O cantor estar de parabéns! Afinal de contas quem dar aos pobres empresta a deus. O novo dvd de Pepe Moreno tem o Clip de um cego com três filhos aleijados.Um clipe muito bom, mais uma vez Pepe Moreno traz a humildade com seus fãs à tona em seu trabalho.Tem muitas pessoas perfeita que vive reclamando da vida por coisas poucas, após ver este vídeo valorize a cada minuto de sua vida, pois a vida é curta demais para estarmos se lamentando, este vídeo mostra a realidade de um jovem casal, ele é cego e primo de sua esposa e tiveram 3 filhos aleijados. Que deus abençoe, e proteja está família! Confira o Clip Pep e moreno um cego e três aleijados! Sou o Pepe Moreno o, cantor e Compositor das Musicas

Quatro acusados de envolvimento no assassinato do professor Juvenilson já estão na cadeia

 Quatro acusados de envolvimento no assassinato  do professor Juvenilson já estão na cadeia   Polícia civil diz que crime está esclarecido e vai pedir a prisão preventiva dos acusados  FONTE:  JORNAL AGORA SANTA INÊS O crime que abalou a cidade de Santa Inês na ultima sexta-fei-ra, 3, foi desvendado pela Polícia Civil, segundo afirmou na manhã de ontem o delegado regional Valter Costa em entrevista coletiva. Valter afirmou que são quatro os elementos responsáveis pela bárbara execução do professor de educação física e goleiro da Liga de Futsal de Santa Inês, Juvenilson Oliveira Veloso de 33 anos, morto na noite de quinta-feira da semana passada. O crime, por sua brutalidade, estarreceu a cidade de Santa Inês e abalou toda a sociedade. Eldda Estephany Noleto da Silva de 25 anos, seu marido Cleiber Alves Garcia, conhecido como "Mineiro", de 47 anos, Leandro Marques Brandão e José Silva Santana, ma

Casos de empreendedorismo: As 2 barraquinhas de limonada

Casos de empreendedorismo: As 2 barraquinhas de limonada : " História originalmente postada por Seth Godin em seu blog . A primeira barraca é gerenciada por 2 crianças. Elas usam limonada de caixinha, copos descartáveis e uma mesa comum. É uma boa barraquinha de limonadas, uma dentre as muitas barraquinhas de limonada que existem por aí. Custa 1 dólar para comprar um copo, o que é um bom preço, ainda mais considerando que você ganhou tanto a limonada quanto a satisfação de saber que ajudou 2 crianças. A outra barraquinha é diferente. A limonada é de graça, mas existe um grande pote para gorjetas. Quando você chega, a dona da barraquinha fica lá, quieta, como só uma garota de 11 anos pode ficar. Ela calmamente pega um pote com gelo e limão. Depois pega o limão, corta-o e faz o suco em um espremedor. O tempo todo em que ela está espremendo o limão, ela também está conversando com você, compartilhando suas ideias (e alegria) sobre o poder que a limonada tem para mudar seu dia. É um l